| Proponho a análise do processo de construção da identidade nacional em Moçambique no período em que sucedeu à supressão da dominação colonial portuguesa, meados da década 70. O movimento político-militar que levou o país à independência (FRELIMO) tinha como um de seus objetivos a criação de uma nação forte e homogênea, num contexto dominado pela existência de uma pluralidade de grupos etno-linguísticos. A análise de documentos oficiais, sobretudo os que diziam respeito à criação do Sistema Nacional de Educação, levou-nos a concluir que o processo de construção de identidade nacional em Moçambique baseou-se na estratégia de representação negativa do passado colonial e das vivências etno-linguisticas particulares. Falar sobre processos de construção de identidades nacionais é uma tarefa complexa, dado mesmo o fato de não haver consenso entre autores da área sobre a existência objetiva da identidade nacional. Assim, podemos ver autores como Berger e Luckman (2004) que defendem que o conceito de identidade nacional é ilusório na medida em que num país existe uma variedade de identidades particulares e não uma identidade homogênea. Por outro lado, autores como Norbert Elias (2006) acreditam na existência de uma identidade que perpassa todas as identidades particulares e torna-se hegemônica sobre as outras – o habitus nacional. Assim, entendemos por identidade nacional ao conjunto de ações e concepções que os indivíduos têm de si mesmos a partir dum conjunto de instituições, símbolos, representações e discursos criados pela elite política (Hall, 2002), com objetivo de “criar padrões de alfabetização universais, (...) uma única língua vernácula como meio dominante de comunicação em toda a nação, (...) uma cultura homogênea” (idem, 49-50). Isto posto, o objetivo de nosso estudo é compreender o argumento que a FRELIMO usou em seus discursos com vista a construção da identidade nacional. |