| É possível responder o que pode nos levar a querer escrever ou, ainda, a tomar posição de autor de um escrito? Tratar de autoria nos remete logo à sua matéria-prima, a escrita. A partir do momento em que focalizamos a autoria como ponto principal, a escrita assume lugar distinto do tradicionalmente ocupado nas pesquisas científicas, mais precisamente, nas pesquisas linguísticas, o estudado no processo de alfabetização por exemplo. Perceber o processo de autoria narrativa no relato autobiográfico não é diferente, pois nessa área temos um sujeito que se inscreve como garantidor das verdades dos fatos; é através da visão de mundo deste sujeito, suas emoções e suas lembranças de fatos que aconteceram no passado que a narrativa se construirá e poderá ser analisada a partir de olhares críticos de distintas áreas do conhecimento linguístico. Tivemos como objetivos compreender as dimensões possíveis de constituição de autoria na escrita de si diante de situação extrema ou de risco; perceber elementos discursivos e textuais mais freqüentes nas narrativas; analisar as dimensões semânticas características de narrativas traumáticas; analisar se existem nas construções da estrutura textual nas narrativas de si especificidades formais da língua. Entendemos por situação extrema ou de risco as circunstâncias que põem em risco a integridade física e/ou moral de um indivíduo. Acreditamos que a situação extrema promove no sujeito concernido uma mudança de linguagem e uma estrutura própria no momento da escrita. A metodologia utilizada foi a Análise do Discurso com apoio dos estudos de Foucault, Pineau e Josso, entre outros. Os resultados obtidos mostraram que a experiência de dor leva à criação de um autor circunstancial, criador de expressões próprias modalizadoras da escrita de si, promovendo o que Forest chamou autoficção. Os resultados atenderam ao objetivo proposto para o qual desenvolvemos um diagrama explicativo da estrutura narrativa recorrente nas narrativas autobiográficas. |