| No final da peça "As Nuvens", do comediógrafo Aristófanes, a “Escola” de Sócrates é incendiada e aparentemente ele é morto. Embora nós, estudiosos de Aristófanes, pretendamos isentá-lo de culpa na sentença real da morte do cidadão Sócrates, é impossível deixarmos de relacionar o ocorrido na peça encenada com o fato que viria a acontecer em Atenas vinte e quatro anos depois desta. Utilizando como referência da veracidade dos fatos ocorridos a Apologia de Sócrates, de Platão, apresentaremos as coincidências entre encenação e realidade. Nesta comparação, podemos atestar alguns pontos em comum como, por exemplo, a acusação de Meleto: Sócrates corrompe a mocidade e não crê nos deuses em que o povo crê e sim em outras divindades novas. É, exatamente, por este mesmo motivo que, ao final da peça, Sócrates se torna vítima da fúria de um pai revoltado porque seu filho, corrompido por suas ideias, já não crê nos deuses instituídos e tampouco na instituição familiar. Mesmo sabendo que Sócrates possuía modos e tipo físico perfeitos para se transformar num personagem de comédia e que aos olhos do povo, certamente, não passava de um louco e alucinado, podemos crer que "As Nuvens" tenha, infelizmente, servido como fonte originária para algumas das acusações contra Sócrates. Esse texto criado na intenção de divertir o público pode ter sido transformado, alguns anos depois, em motivo de tristeza e vergonha para o Povo Ateniense.
Agradecimento à Fundação Cearense de Apoio ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico – FUNCAP.
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