| Considerando o contexto introdutório do Neorrealismo português e a luta de classes proposta por Marx, este trabalho observa o papel das molduras, segundo o teórico russo Uspênski, e da linguagem cinematográfica como estratégias de análise do capítulo “Rancho”, do livro de Alves Redol, Gaibéus. Para isso, observamos a alternância dos pontos de vista externo e interno, dando maior relevância ao que Uspênski chama característica espaço-temporal, recorrendo aos demais níveis propostos quando necessário. A partir desta alternância, constatamos uma progressão semelhante à linguagem cinematográfica, e verificamos que as molduras reforçam e estruturam, no texto, a ocorrência de tal linguagem, dividindo o capítulo em pelo menos três unidades: Cena I: O Arrozeiro, Cena II: Os Ceifeiros, Cena III: As Relações de Trabalho, obtendo, em cada cena, uma relação distinta entre o narrador e o personagem que ele enfatiza. A realização desse paralelo entre Cinema e Literatura foi feita de modo a recorrer aos elementos conceituais e estruturais do cinema, como os planos cinematográficos, os conceitos de cena e de montagem, a autores como Massaud Moisés, em A Literatura Portuguesa (2006) e João Rafael de Menezes, em Caminhos do Cinema (1958), que contemplam essa relação entre Cinema e Literatura, sem perder de vista o papel e as implicações sociais do cinema. Logo, percebemos nas três cenas que a atuação das molduras de Uspênski realiza uma transição de um ambiente espacial mais amplo a um mais restrito, ocorrendo os diversos planos cinematográficos, cujo ápice se dá com o discurso direto, denotando uma maior aproximação em relação ao personagem, saindo do plano geral ao plano próximo, por exemplo. Portanto, o capítulo Rancho constitui uma unidade, a que chamamos sequência, esta do tipo exposição, cuja montagem se realizou por antítese, pois temos a configuração de três diferentes e antagônicos modos de viver. |