| A capoeira é uma luta-dança-jogo que faz parte do imenso conjunto de tradições surgidas a partir das heranças dos negros retirados da África e submetidos ao jugo da escravidão, e que na América reconstruíram suas identidades. A pesquisa visa descrever como o culto aos ancestrais, elemento estruturante da cosmovisão africana, manifesta-se na capoeira. Do ponto de vista metodológico, estamos nos apoiando na observação participante e numa bibliografia que resgata a literatura produzida em torno das temáticas da capoeira, da ancestralidade africana, dos estudos identitários e da memória coletiva. Os corpos e a tradição oral, eixo central na transmissão da capoeira, foram os recursos com os quais os povos da diáspora africana constituíram novas identidades, desenvolveram suas memórias coletivas e reconstruíram suas culturas. Através destas linguagens, os ancestrais são chamados ao presente para trazer seus ensinamentos, sua força vital, seu axé, unificando as experiências. A África é revisitada e recriada através de cânticos, louvações e das histórias passadas pelos mestres entre as gerações e no cotidiano dos treinos, relembrada como uma forma de manter o elo do capoeirista com suas raízes. O mestre ocupa papel central na preservação e transmissão dos saberes, é o guardião da ancestralidade. Assim, temos que a relação com a ancestralidade atua na construção de uma memória coletiva entre os capoeiristas, compartilhando de uma identidade, que os remete a um modo de sentir e relacionar-se com o mundo e com as pessoas neste universo simbólico, pensando e recordando a partir de uma perspectiva em comum. |