| Indo da metafísica à política, da teoria do conhecimento à educação, da cosmologia à ética, Platão conseguiu percorrer com suas obras praticamente todos os grandes temas de seu tempo, deixando-nos como herança um quebra-cabeça teórico que tem rendido as mais controversas discussões ao longo dos últimos vinte e cinco séculos. Pesquisando no corpus sobre o filósofo e a filosofia, encontramos uma longa “trilha de migalhas”, deixada pelo Ateniense, dispersa em diversas obras, tornando difícil, inclusive, a tarefa de situar esta questão em determinado grupo de títulos, ou em determinada fase de seu pensamento. Ao ampliar a pesquisa, nota-se, não só, a recorrência da questão, mas também sua relevância para se cogitar um pano de fundo que auxilie na melhor disposição das diversas peças do quebra-cabeça teórico presente no tabuleiro de suas obras, alinhando a estilística literária, as temáticas abordadas e o método, com uma visão de mundo e um ideal de homem. O desafio é problematizar sobre a filosofia e o filósofo, repondo, atualizando, lançando luzes sobre uma possível pergunta, recorrente e fundamental, engenhosa e delicadamente implantada, no interior do percurso do autor. Como nada é por acaso em Platão, a sutileza indica pistas. No atual momento de nossa pesquisa, investigamos os livros V e VI d’A República onde, à guisa de justificar sua afirmativa de que não cessarão os males da cidade nem do gênero humano enquanto os filósofos não chegarem a reinar ou os reis se puserem a filosofar seriamente e com profundidade, o autor descreve a natureza do verdadeiro filósofo, elencando as qualidades e virtudes que deve possuir a alma de quem aspire à amizade à sabedoria. |