| Pouca atenção tem sido dada pela História, Filosofia e Sociologia da Ciência ao estudo da atuação feminina no campo científico. No Estado do Ceará, especificamente, não existem pesquisas sobre tal problemática. Neste sentido, três caminhos têm sido privilegiados na busca por informações que rompam o “silêncio e a obscuridade” (PERROT, 1998) que marcam a presença das mulheres na produção de conhecimento científico: seus percursos e percalços na educação, literatura e imprensa cearense. Estes âmbitos de investigação têm sido estratégicos na medida em que há uma escassez de registros sobre a história de participação das mulheres na Ciência cearense, principalmente quando se trata de um período anterior à fundação da “Universidade do Ceará” – hoje Universidade Federal do Ceará – em 25 de junho de 1955. De tal modo, a pesquisa documental tem se revelado uma técnica fecunda para a coleta de dados referentes ao século XIX e início do XX. Particularmente, no âmbito educacional, as mulheres destacaram-se neste período inicialmente como professoras de primeiras letras da instrução pública, depois como professoras do Liceu do Ceará. Sobre estas pesava uma dura vigilância moral e religiosa, fatores mais relevantes para a manutenção de seus cargos do que mesmo a sua competência e atuação profissional. Ademais, registros sobre a participação feminina no Instituto do Ceará Histórico, Geográfico e Antropológico; e na Academia Cearense de Letras têm sido precisos, visto que muitas mulheres que transitavam e transitam nestes espaços, tem em suas trajetórias a prática docente e da pesquisa em universidades do Estado. Assim, é neste chão interpretativo que situo a maior contribuição desta análise: a percepção da Ciência neste espaço através da recomposição e interpretação das trajetórias (LAHIRE, 2004) de mulheres cientistas por meio de suas falas, olhares e memória. |