Pretendo, neste trabalho, analisar os principais conceitos expostos no opúsculo kantiano intitulado O Que é o Esclarecimento? Publicado em 1784 pela Berlinische Monatsschrift. Neste artigo, Kant constrói severas críticas ao sistema vigente na sociedade do século XVIII e faz o apontamento de alguns dos inúmeros motivos que impossibilitam a escalada do homem até o seu esclarecimento, inviabilizando, desta forma, a efetivação do ideal teleológico iluminista de progresso, onde todos estariam livres das amarras do obscurantismo, sobrepujando todo e qualquer tipo de fanatismo ou superstição. Entretanto, se Kant pode e deve ser considerado um filósofo do Esclarecimento (Aufklãrung) é também um crítico deste movimento e dos filósofos da “tolerância”, cujo conceito, segundo estudiosos como Maria das Graças de Souza e Luiz Roberto Salinas, não implica um reconhecimento da alteridade, mas um olhar prepotente e preconceituoso sobre outrem, distanciando-os ainda mais da tão almejada “maioridade”. É no contexto rico e multifacetado das Luzes, onde philosophes como Voltaire, Rousseau e Montesquieu e “déspotas esclarecidos” como Frederico II da Prússia e Cataria, A Grande, povoam o cenário intelectual da época, que se embasam as opiniões do filósofo alemão expostas no referido texto e que, embora sejam objeto de estudo deste trabalho, se mostram ainda muito longe de um esgotamento decisivo e final. |