A pesquisa em andamento é relativa aos trabalhos executados por mulheres abarracadas em Fortaleza, no período da seca de 1877-79, e como estes trabalhos estavam inseridos não somente no âmbito da economia fortalezense diante da realidade da seca e da sobrevivência das famílias retirantes, mas também em questões morais, em relações de gênero e poder entre homens e mulheres, vindos de uma cultura ainda bastante tradicional e paternalista. As fontes analisadas para essa pesquisa são, prioritariamente, oriundas do Arquivo Público do Estado do Ceará: ofícios, relatórios, correspondências, jornais. Esse material documental permite mapear os abarracamentos e visualizar seus moradores, distinguindo-os através das listas de trabalhadores: os válidos, os inválidos, os idosos, as crianças e as mulheres. Os trabalhos destinados às mulheres pelos comissários de obras eram geralmente aqueles que englobavam o espaço de atuação corriqueiro feminino: dentro do espaço privado, os ditos trabalhos domésticos. Entretanto, é possível perceber que a atuação de muitas mulheres extrapolava esses limites, seja realizando trabalhos considerados masculinos devido à grande força física empregada, seja em atividades que burlavam os códigos de moralidade feminina do período, como a prostituição. A relação destas mulheres com o trabalho, portanto, é também uma forma de compreender as relações de gênero e suas implicações até mesmo em momentos de crise. |