| Além de ser uma preocupação do ensino regular, a segmentação do texto escrito em unidades menores, as palavras, é um espaço privilegiado para tratar de compreender de que maneira a própria noção de palavra é compreendida pela criança. Com base nesta perspectiva e na pesquisa empreendida por Ferreiro e Pontecorvo (1996), o objetivo deste trabalho é investigar a evolução da segmentação convencional do texto escrito infantil. Especificamente objetiva-se: analisar uniões onde se devia separar (hipossegmentação) o pronome, em posição proclítica, do verbo; verificar quando esse caso de hipossegmentação tende a ser eliminado da escrita da criança; e explicar os motivos que levam a essa união. Quanto à metodologia, esta pesquisa faz uma análise qualitativa dos dados. Optou-se por fazer um estudo longitudinal com duas crianças da 1ª série do Ensino Fundamental de uma escola particular da cidade de Fortaleza-CE. Foram coletadas quatro versões da história “Chapeuzinho Vermelho” escritas por essas crianças em quatro momentos: no fim da 1º e do 2º semestre da 1ª série e no fim do 1º e do 2º semestre da 2ª série (corpus de MOURA, 2002). Constatou-se que as duas crianças não seguiram a segmentação convencional nas duas primeiras versões do texto, fazendo hipossegmentações do tipo licheira: pronome lhe + verbo cheirar, em “epar licheira melho...” Contudo, nas duas últimas versões, já faziam a segmentação convencional. Portanto, percebe-se que esse caso de hipossegmentação envolvendo pronome proclítico e verbo aparece logo nos primeiros textos das crianças, mas ao longo da escolaridade desaparece, certamente em virtude do maior contato com a língua escrita. Entretanto, esse desvio de segmentação parece ser um passo comum para muitas crianças, uma vez que se trata da união de uma palavra átona com uma tônica. |