| O romance Lavoura Arcaica, do escritor paulista Raduan Nassar (cuja curta carreira literária pode ser considerada um marco na literatura contemporânea), já vem sendo crescentemente estudado sob diversas óticas, ressaltando, assim, a importância que tem para a Literatura e para a sociedade. Como adendo às pesquisas já desenvolvidas, propõe-se, aqui, a observação mais atenta, através de recortes do romance, do papel da infância – fracionadamente recuperada pelo narrador – sobretudo no que concerne à figura materna e à forma como André, personagem principal e narrador, interpretava sua relação com a mãe. Responsável pela introdução do leitor na vida e no íntimo de André, a idade infantil assume o papel de catalisador das experiências da idade adulta, misturando-se a ela em um discurso rememorativo confuso e fragmentário. Para tal propósito, serão referidas as contribuições de Chombart de Lauwe (1991), para a melhor compreensão desse trânsito entre idades na constituição do “eu” narrador, e de Bergson (2006), para a análise da apreensão das imagens pelo personagem. Desta maneira, é possível depreender que a influência da mãe nos sentimentos infantis e, sobremaneira, nas atitudes e nos posicionamentos da vida adulta do personagem, parte, principalmente, do modelo de seleção de imagens de André, no nicho da memória. Esta seleção traz a marca da parcialidade, pelo apagamento do tempo, não sendo capaz de responder claramente por um comportamento materno, de índole incestuosa.
palavras-chave: memória, infância, literatura.
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