| O objetivo de minha pesquisa é refletir historicamente sobre os embates e conflitos causados pela possibilidade da utilização de métodos contraceptivos científicos/medicalizados em Fortaleza nos anos 1960/70. Foi nesse período que métodos como pílulas anticoncepcionais, DIUs e laqueaduras de trompas passaram a ser mais discutidos na imprensa, muitas vezes ao lado de matérias que enfatizavam o perigo representado pelo comunismo e o crescimento populacional nos países pobres, fatos que preocupavam os países desenvolvidos. A região nordeste foi considerada como uma “Cuba em potencial” e, dentro dessa conjuntura, devemos pensar Fortaleza, cidade que, se na década de 1950 possuía por volta de 270.000 habitantes, em 1960 teve esse número quase duplicado. Neste trabalho utilizo-me da categoria de análise “relações de gênero” que surgiu da necessidade de se pensar os papéis de mulheres e homens como algo construído historicamente e não determinado pelo biológico. Nesta comunicação, especificamente, pretendo analisar a idéia de mulher presente nas propagandas de anticoncepcionais que se encontram nos Anais e Jornal Brasileiro de Ginecologia, dialogando com notícias veiculadas nos jornais que circulavam à época em Fortaleza e com a bibliografia referente ao assunto. A partir das roupas, acessórios, posturas e situações é possível inferir sobre o ideal de mulher proposto pelos anúncios naquela situação histórica, perceber mudanças e/ou continuidades nas relações de gênero causadas pela possibilidade do uso dos anovulatórios e refletir sobre as tentativas de interferência na autonomia dos sujeitos que os discursos presentes nas propagandas pretendem estabelecer no que se refere ao corpo feminino que transforma-se no alvo desses anúncios. |