| A memória construída e celebrada na comemoração do centenário de elevação do Crato à categoria de cidade, em 1953, tentou celebrar – e simultaneamente relegar ao esquecimento – determinados episódios da história local. Os festejos do centenário do Crato assumiram, na visão de seus organizadores, a função de modelo pedagógico cujas deficiências superariam a de outros espaços. O objetivo do trabalho é pensar como a festa centenária, ao evocar o passado, tentou trazer aos espectadores um sentimento de pertença a um passado glorioso. Este trabalho é realizado a partir do cruzamento dos discursos presentes nas fontes produzidas pelos membros do Instituto Cultural do Cariri, seja no âmbito da Instituição ou fora dela, como no caso da imprensa, em que estes compareciam como colaboradores. A constante alusão ao Crato como sendo um lugar desde sempre destinado ao progresso, projetava um porvir sempre próximo, mas nunca tangível, que deveria estar alicerçado no passado histórico e de tradições deliberadamente inventadas e difundidas mediante a imposição de uma memória oficial. Pela análise da documentação, pudemos perceber que a comemoração do centenário do Crato foi um momento em que se pode observar a divulgação do pensamento que orientou as construções narrativas para a história cratense. As comemorações ganharam centralidade na medida em que tem possibilitado desvendar tensões e conflitos em torno da construção de uma imagem homogênea da história e da memória da cidade. Entre os resultados da pesquisa, podemos perceber que esse momento indica que as representações do passado foram se estabelecendo enquanto memória histórica e se deslocando do campo das narrativas para a esfera da construção de símbolos e tradições.Esta pesquisa tem apoio financeiro da CAPES. |