Para a psiquiatria contemporânea o medo é concebido como uma emoção-choque que quase sempre vem precedida de surpresa, provocada pela nossa tomada de consciência de uma ameaça presente e urgente que põe em risco a nossa conservação. Bauman o define como o nome que damos a nossa incerteza: nossa ignorância da ameaça e do que deve ser feito. Sem sombra de dúvidas, como já dizia Delumeau, os indivíduos e as coletividades estão comprometidos num diálogo permanente com o medo. Refletir sobre as definições de medo de algumas áreas das ciências humanas e das ciências psiquiátricas, como também fazer uma análise do medo despertado pela lepra/leproso na Fortaleza dos anos 1920, através dos discursos elaborados por várias instâncias sociais (imprensa, medicina, Igreja, etc), é o nosso principal objetivo com este trabalho. Constatando que o medo é um instrumento poderoso nas estratégias de governo social e individual.
Acreditamos que pesquisar a lepra no começo do século XX em Fortaleza, é tentar dar conta de nossos medos atuais, de questões que ainda são as de nossa contemporaneidade. Não há porque empreender uma pesquisa histórica, simplesmente com o intuito de conhecer o passado pelo passado, renovar o conhecimento historiográfico ou aperfeiçoar ferramentas teóricas e metododológicas. Partindo do pressuposto de que o papel do intelectual contemporâneo é, a partir do seu campo de luta, realizar uma cartografia das relações de forças. |