| Muito se tem falado sobre o uso do crack na sociedade contemporânea. Pautado em um discurso apocalítico os enfoques da mídia apresentam a droga como a atual “praga da humanidade” e pano de fundo para o aumento da criminalidade, em detrimento de motivações que há décadas vem sendo apontadas e estudadas por cientistas sociais como as causas da violência: as desigualdades sociais, por exemplo. Ao se pretender pensar o Crack como indutor de algumas das “mazelas” da nossa sociedade contemporânea, não se leva em conta as condições de propagação da droga, as questões subjetivas que impulsionam à aproximação com a referida droga, o uso como mecanismo de fuga de uma realidade difícil de ser vivenciada e como antídoto face à angustia do viver, além da carreira percorrida pelo sujeito viciante até o seu contato inicial com o crack. Pesquisas recentes (Monteiro, 2010) revelam que a trajetória de um drogado é gradativa, inclui-se aí o uso do álcool, a maconha, ainda tão romantizada, a cocaína, sem omitirmos as drogas de balada como o o ecstasy e o LSD. O crack, seria a ponta de uma carreira aditiva onde houve espaço para diversas experimentações e abusos. Mata-se mais e rouba-se mais porque há a urgência, porque as experiências de consumo de drogas desses indivíduos são, em grande parte, carregadas de sofrimento psíquico e de corpos ávidos pela substância que lhe trará alívio, o que resulta em ações desprovidas de um caráter racional. O que pretendo observar nessa pesquisa, ainda em fase inicial, é a representação do crack para os viciados e como esses elaboram o significado de suas ações quando diante das conseqüências sociais advindas dessas ações. |