O tema da criação literária percorre há muito a literatura, em especial a poesia. A valorização da escritura em detrimento do Humanismo e da História, ambos detentores de um saber teleológico, permite-nos hoje percebê-la por si e numa busca de si. Em nossa contemporaneidade, a noção de unidade não permanece em sua essência primária, o que nos permite pensar na idéia de fragmentação. Pensar sobre a origem e o alcance do texto literário é cabe não somente à crítica, mas aos próprios poetas, que são acometidos por preocupações estéticas, haja vista o ponto de indecidibilidade no qual a literatura se encontra. A própria figura do autor é controversa e causa certo impacto na percepção do texto. Entre a ausência do mundo palpável e a necessidade das pontes mundanas, as posições críticas se dividem. Nosso estudo parte da apreciação da linguagem que constitui o texto literário, visando dialogar na medida do possível com as imagens errantes que não raro saltam aos olhos do leitor. Herberto Helder e sua poética da falta são o ponto central da nossa discussão. Para isso, selecionamos alguns poemas da coletânea Ou o poema contínuo que nos permite explorar o tema escolhido. Fundamentamo-nos em concepções teórico-filosóficas de Maurice Blanchot, nas obras L’espace litteraire, La part du feu, L’entretien infini et Le livre à venir. Nosso olhar leva ainda em conta leituras de Heidegger, Gilles Deleuze, Giorgio Agamben, Antoine Compagon, Jacques Rancière e Leyla Perrone-Moisés. |