| A teoria do valor é uma questão fundamental, sem a qual não se pode compreender O capital. Marx afirma que a sua teoria do valor, amparada na lógica dialética de Hegel, é responsável por pôr abaixo todas as teorias do valor construídas até ele. Não se trata de uma questão secundária no pensamento maduro de Marx: é central e, mesmo com toda a sua dificuldade, não se pode desvirtuá-la sem perder o viés das teses de O capital. Nesse sentido, o presente trabalho é uma proposta de reconstruir a teoria do valor de Marx, presente na primeira seção de O capital, assim como seu caráter meramente histórico, desenvolvido somente no capitalismo, já que só ele dá as possibilidades de nivelamento do trabalho humano no geral. De imediato, é preciso separar, na mercadoria, elemento fundamental do capitalismo, o valor-de-uso do valor-de-troca: o primeiro é a utilidade dos produtos do trabalho que são necessários para a vida humana e, portanto, existem independentes de todas as formas sociais existentes (inclusive as formas sociais onde não existem mercadorias). O segundo é a forma fenomenal do valor na mercadoria, que só se desenvolve, plenamente, no capitalismo, onde duas ou mais mercadorias se igualam como produtos do trabalho humano abstrato no geral. Essa segunda forma é puramente histórica e fundamenta o capitalismo, embora não seja fundamentada por ele. A primeira, a utilidade, é um intercâmbio necessário do homem com a natureza. Percebeu-se, assim, que o valor é uma categoria histórico-contingente, ao contrário do trabalho, que é necessário, apesar de ser diverso nas suas formas de se constituir. Ficou patente, na pesquisa, que a interpretação que coloca o valor como resultado necessário de todo e qualquer trabalho humano é enganosa e termina por gerar falsas interpretações de O capital. |