Esta pesquisa tem como objetivo investigar a relação entre o discurso psiquiátrio e as práticas de poder a partir de uma análise da obra do filósofo francês Michel Foucault (1926-1984), O Poder Psiquiátrico, composta pela transcrição de doze aulas ministradas no Collège de France, nos anos de 1973 e 1974. O curso foi resultado dos estudos de Foucault sobre a realidade que permeou os asilos dos séculos XVIII e IXX, realidade esta que só pôde se firmar a partir das práticas discursivas e das relações de biopoder articuladas pela psiquiatria que, na época, necessitava se estabelecer como campo de saber na medicina, visto que grande parte das psicopatologias não possuía uma base neurológica que pudesse ser identificada. Precisava-se, então, dar corpo à loucura. Assim, era essencial a presença do médico no espaço asilar, não pelo conhecimento teórico que ele possuía, mas sim por suas marcas de saber, pois o que era efetivamente posto em prática eram jogos de poder que objetivavam a submissão, ou seja, o assujeitamento dos loucos, tornando-os indivíduos ideais para serem recebidos pela sociedade. Entretanto, não eram apenas as marcas de saber do médico os elementos necessários para tornar o asilo um dispositivo disciplinar, mas também os outros funcionários – vigilantes, enfermeiros – e a estrutura física do local. Quanto a este último aspecto, Foucault ressalta o pan-óptico, modelo arquitetônico muito utilizado na época em asilos e prisões, que permitia a visualização de um amplo espaço por um número pequeno de pessoas. O passado analisado em O Poder Psiquiátrico também pode ser observado na realidade hodierna, visto que a atenção médica, principalmente a psiquiátrica, ainda persiste como regulação de costumes e imposição de normas, o que impulsiona, por sua vez, a luta antimanicomial.
Pesquisa realizada com bolsa PIBIC/UFC. |